Desde a época em que apresentava o Aleatório, misto de podcast e programa de rádio, na Multishow FM, que o El Mató a un Policia Motorizado me chama atenção. Lógico, primeiro pelo nome. Depois pelo som. Com pouco tempo essa ordem se inverte e a oração que batiza o quarteto começa a soar bastante natural aos ouvidos e se abrevia para “El Mató”.

Em abril, quando estive na Argentina, perdi por pouco um show dos caras, mas encontrei uma bela matéria sobre o vocalista Santiago Barrionuevo na Rolling Stone de lá. Um espaço generoso que não se vê muito sendo dado a bandas de tamanho parecido aqui no Brasil. Achei o camarada curioso, gordinho, carismático. Vindos de La Plata, eles têm ainda mais dificuldades do que as bandas brasileiras de fora do eixo, até porque se aqui ainda há um eixo (que é cada vez maior), lá só há mesmo Buenos Aires. Ainda assim, eles estão ocupando bastante espaço no país e andando bem pela América do Sul. Aqui no Brasil, eles passaram recentemente pelos festivais Calango e Porão do Rock.

É uma banda curiosa, que não tem muitos vídeos no YouTube (nenhum oficial), tem um site ultra simplório, disponibiliza poucas coisas no Myspace, e que mesmo assim avança lenta e solidamente nesses tempos de comunicações instantâneas. Com a nova vinda deles ao Brasil para o Festival Indie Rock, troquei uma ideia com o vocalista do grupo por e-mail.

sobremusica: Poderia nos contar, resumidamente, a história do El Mató? No Brasil, há poucas informações sobre o grupo.

Santiago Barrionuevo: A banda começou em 2003. Decidimos gravar algumas canções antes de tudo, inclusive antes de sair para tocar. Nos conhecemos no segundo grau e de alguns eventos no nosso bairro. Gravamos nosso primeiro disco e fizemos as primeiras apresentações no fim daquele ano. Em 2004, lançamos o disco com o mesmo nome da banda e seguimos tocando. Depois disso, lançamos “Navidad de reserva” em 2005, “Un millón de euros” em 2006 e “Dia de los muertos” 2008.

sm: Como você disse, vocês lançaram uma trilogia de álbuns sobre o nascimento, vida e morte nesses últimos anos e foi neste período que se tornaram conhecidos na Argentina e um pouco na América do Sul. O que o grupo tem pensado para os próximos anos musical e comercialmente?

SB: Sim, a trilogia chamou muita atenção e as canções foram muito bem recebidas. Foi incrível tocar em São Paulo, em 2007, e ouvir as pessoas cantando. Nosso plano é seguir gravando discos, realizar alguns vídeos e seguir tocando por todos os lados, até o fim!!!

sm: Qual a relação do indierock argentino de hoje com os nomes mais conhecidos do pop rock do país, de outras gerações, como Fito Paez, Charly Garcia, Spinetta, Soda Stereo, Los Fabulosos Cadillacs? Vocês gostam dos artistas mais velhos? Quais te parecem as principais diferenças entre a sua geração e a deles?

SB: Quando era criança, eu gostava muito dos Cadillacs! Meus irmãos escutavam e eu herdei isso. Na adolescência descobri Spinetta e suas primeiras bandas como Almendra e Pescado Rabioso. Mas a relação entre o indie rock atual e essa geração é quase nula. Como artistas novos, que escolheram a independência, estamos em outro universo. Não nos preocupamos com os outros. Fazemos o que gostamos e, se temos uma boa relação entre nós mesmos, isso é o que é mais importante e divertido.

sm: Vocês são de La Plata. Como isso aparece no trabalho do El Mató? O que os grupos da cidade têm de diferente em relação ao resto do país?

SB: Não sei se há algo concreto que apareça, como um “som platense”. Mas, claro, as bandas de La Plata tem uma preocupação estética particular, que passa pela mistura de diferentes artes. Percebe-se isso no espírito das bandas e nas suas obras, em geral.

sm: Santiago, ao que pude ler e ver, você tem um grande talento para desenhar e é irmão de um dos maiores ilustradores argentinos. No site do El Mató, só há referências gráficas e poucas informações. Qual é a sua relação com as artes plásticas e gráficas?

SB: Sim, agora estamos fazendo uma nova página que terá mais infomações. Eu gosto muito de artes visuais. Foi a primeira coisa que experimentei quando criança, antes da música, e bem, sou responsável pela maioria dos cartazes e das capas dos discos da banda. O nosso baterista Doctora Muerte também desenha. Nós estudamos Belas Artes juntos, em uma escola cujo segundo grau era especializado em artes. Meu irmão escreve histórias e trabalha para DC Comics. Ele desenhou alguns títulos de Batman e do Super-Homem. Agora está com outros novos, mas não me lembro. Ele é realmente muito bom!

sm: Apesar dessa relação com desenhos e com as artes gráficas, o site do grupo é bem simples. E vocês são conhecidos como uma banda que não tem videoclipes nem na TV, nem sequer na internet. Li em uma entrevista sua que, para você, quem quisesse ver o El Mató precisava ir a um show. Não é uma decisão muito radical em tempos de internet e da necessidade que os músicos têm de usar ferramentas audiovisuais para se comunicar?

SB: Não, isso não é uma bandeira para a gente. Mas realmente o El Mató ao vivo é uma experiência muito boa! Tanto para nós, quanto para os meninos e meninas que vão sempre e nos fazem perceber isso. Sempre são grandes festas que acabam acontecendo. A verdade é que fazer tudo de maneira independente torna mais complicada a produção de um videoclipe e de outras coisas deste tipo. Nós queremos fazer os nossos, estar a altura, porque gostamos, temos boas ideias e não queremos deixar na mão de terceiros para ver um resultado final que não nos agrade. Queremos trabalhar nisso e muitas vez não sobra tempo. Mas em breve teremos novidades sobre isso.

sm: Que tipo de ferramentas de comunicação vocês usam para chegar aos fãs? Twitter, Facebook,blogs? Qual o jeito mais fácil para quem quiser acompanhar e saber novidades de vocês?

SB: Sim, a página é simples, mas estamos renovando! www.elmato.com.ar, lá estão nossos principais links, o fotolog (no qual se pode ver toda as artes gráficas da banda), o myspace (para escutar as músicas e saber dos shows, o facebook e o last.fm.

sm: Vocês são a banda argentina que mais tem se aproximado da nova cena musical brasileira. Já tocaram em festivais como o Calango e o Porão do Rock. Como observam a cena daqui? Gostam de algum artista brasileiro em especial (independente ou não)?

SB: A gente gosta muito da cena daí. Há muitas bandas e um espírito muito positivo. Somos fãs do Superguidis, Autoramas, Macaco Bong, Ordinaria Hit, MQN, entre outras. Além disso, o idioma é muito bonito, assim como a mistura cultural de vocês. Pra gente é genial ver a quantidade de festivais, com boas produções, dedicados à arte independente. Isso é algo que falta por aqui na Argentina.

sm: É possível comparar as cenas independentes dos dois países?

SB: Deveria conhecer mais do Brasil, mas sei que o bom daí é que não está tudo tão centralizado como acontece na Argentina, onde a grande cena está concentrada em Buenos Aires. Existem ótimas bandas por todo o país, mas não têm a repercussão de Buenos Aires ou daqueles que conseguem tocar por lá.

sm: E o Rio de Janeiro? O que vocês estão achando de tocar aqui? Já esteve na cidade alguma vez?

SB: Eu já estive aí de férias há muitos anos e me pareceu uma cidade incrível. Por isso, tocar no Rio agora é realmente como um sonho que se torna realidade. Isto é, se todos chegarmos bem aí e o avião não terminar na ilha de Lost!!!

Cartaz feito para o show do Rio de Janeiro

Cartaz feito para o show do Rio de Janeiro