Ficar falando dos projetos nos quais se está envolvido aqui no SOBREMUSICA é sempre aquela coisa complicada. Soa estranho e até por isso andei meio afastado daqui nos meses em que eles me consumiam todo o foco de atenção. Mas dois deles ocuparam meu fim-de-semana de formas diferentes.

Por ora, vamos falar de Casuarina. No sábado, o lançamento do DVD MTV Apresenta, do qual fui diretor, aconteceu para uma Fundição Progresso cheia, mas não lotada. Talvez justamente por ser no sábado, e não na terça-feira, dia tradicional da Roda de Samba do Casuarina, que deu origem ao DVD. Apesar do fim-de-semana, o público não foi muito diferente do que poderia ser numa terça-feira comum e foi abaixo do que costuma ser nas temporadas de meses que a Roda faz duas ou três vezes por ano.

Na vibe que a maioria dos artistas da Lapa segue - o que já toma ares de característica definitiva desta geração de músicos -, o que há de mais autoral no Casuarina é a sua forma de reler antigos sambas. Cada artista da Lapa o faz de um jeito e o Casuarina consegue dar um ar pop, com arranjos sofisticados e uma instrumentação que mistura referências a diversas épocas do samba. Há também as músicas próprias, lógico. Mas o que traz assinatura ao trabalho deles ainda é isso.

O show correu basicamente pelas músicas que estão no DVD, mas também corrigiu alguns erros e injustiças de repertório que se revelaram ao longo do processo de finalização. A ausência das participações também foi sentida neste show, já que essa é outra característica da Roda do Casuarina e está fortemente representada no DVD.

A banda viverá agora a dificuldade de transformar o que era um evento específico, com formato fechado, em um show para correr o país. Musicalmente estão prontos, a grande questão que se impõe é a de mise-en-scène, de fazer um show literalmente. O começo disso passa por trazer mais para si a atenção das apresentações do que para o repertório, como vem sendo até aqui na carreira deles. Creio que no DVD isso acontece. O repertório fala por si só, está lá, mas o olhar sobre os músicos e sobre a plateia divide mais a “hierarquia” da coisa. No show, as armas são outras e não é um processo simples.

O caminho para isso começou a ser encenado no sábado. De cara, o repertório próprio já ganhou um pouco mais força na apresentação - mas pode ganhar ainda mais. A seleção de repertório autoral feita para o DVD foi boa, talvez o filtro é que tenha sido muito estreito. Depois que “Vaso ruim” foi parar na novela das oito a confiança no próprio taco já pode aumentar - até sob o viés comercial. A inclusão de “Peçonha” na apresentação de sábado foi bem recebida e mostra que dali pode sair mais. Há que se aguardar pra ver, mas também há motivos para se acreditar que essa virada acontecerá ao longo da turnê. É possível se libertar da Lapa, sem deixá-la para trás.