Durante a ausência do primeiro semestre, quando estive totalmente alheio à vida do SOBREMUSICA por conta dos outros trabalhos, ficava a fim de, pelo menos, mostrar aqui algumas das coisas bacanas que estavam rolando… Vou começar a mexer no baú desse ano aos poucos e, pra começar, vou tirar uma das peças que está por cima, que entrou no ar semana passada…

Uma entrevistinha com o diretor Roberto Berliner, um dos responsáveis pelo filme “Herbert de Perto” (também dirigido por Pedro Bronz) e que fiz para o site dos Paralamas. Aliás, quem toca guitarra deve ficar de olho. Tá rolando uma promoção molezinha lá para ganhar uma guitarra autografada… Pena que eu não posso entrar nessa. Se liga.

Enfim, o papo por e-mail com o “Robertinho”. O link original, com a íntegra da conversa, é esse aqui.

São quase três décadas de uma forte amizade e cumplicidade. Roberto Berliner começava a carreira de videomaker enquanto Os Paralamas iniciavam a busca por um lugar ao sol, tocando no Circo Voador.

De lá pra cá Berliner já dirigiu um grande número de videoclipes, documentários, filmes… Poucos se lembram de “V”, uma espécie de documentário sobre os Paralamas lançado no fim da década de 80. Foi feito por ele. O acervo generoso de imagens dos Paralamas foi ficando cada vez mais rico e valioso com o passar dos anos e o aumento de hits paralâmicos na história da música popular brasilera. E disso nasceu “Herbert De Perto”, o filme lançado ontem.

Berliner deu uma entrevista exclusiva para o site da banda e revelou um pouco dessa relação intensa relação com a banda.

Você conhece a banda desde quando? Como foi o primeiro contato?

Conheci os Paralamas em 83 . Foi no Circo Voador, onde eu filmava tudo em VHS e onde as novas bandas de rock, que estavam começando, tinham um espaço aberto pra tocar.

O que te fez resolver começar a gravar imagens daqueles jovens, lá no início dos anos 80? Você via alguma coisa de diferente na banda ou era só o vício de videomaker mesmo?

Via muita coisa diferente. Uma nova geração de artistas de todas as áreas se juntou debaixo da lona do Circo pra ocupar um espaço que não tinham. E como era um espaço novo, praticamente sem regras. Ali experimentaram tudo que podiam. E eu estava lá e registrei tudo isso. Dali surgiram grandes nomes de todas as áreas que hoje estão consolidados. Foi um momento especial, surgiram idéias e comportamentos que iriam mexer na forma de fazer música no Brasil.

Hoje em dia ficou fácil toda banda se filmar, registrar desde o primeiro ensaio e subir tudo na internet. Como era filmar bandas independentes ou em início de carreira no meio dos anos 80?

Era diferente, não se dava a importância que se dá hoje pra imagem. Quando eu chegava com a câmera era uma coisa secundária, ninguém dava muita bola. O meu comportamento era parecido com o que se faz hoje. Eu tinha uma moto e uma câmera. Amarrava ela no bagageiro e me mandava pra onde fosse. muitas vezes cobrava só o valor da fita. O meu negócio era filmar.

Os Paralamas sempre estiveram a frente das inovações de linguagens estéticas, não só musicais, mas também visuais e você foi um dos pilares dessa história. Como você observa essa relação artes visuais (capas, fotos, clipes, etc) x música, especialmente no caso da banda?

Acho que isso foi conduzido por eles. Uma turma que foi se juntando naturalmente. O Maurício Valadares com as fotos, alguns artistas plásticos que fizeram capas. Tudo foi resultado da trajetória deles. Em cada disco aparecia alguém diferente. E os que se identificavam mais foram ficando. Essa turma foi construindo a imagem da banda junto com eles, que sempre souberam o que queriam e o que não queriam. Fiz o meu 1º clipe para Os Paralamas em 86, a música era “Alagados”. O LP foi uma grande guinada na carreira deles. O som e os temas eram uma mistura que vinha da Africa, Jamaica e Brasil. Um LP especial. E eu trouxe um tom de documentário brasileiro, o contrário da tendência do videoclipe dessa época que abusava de efeitos, fumaças, maquiagem, estúdio. Fomos pra rua, ver gente real. Baile funk na quadra da Estácio, Vila Mimosa, morro do São Carlos, brasileiros pobres. Tentei fazer o mesmo movimento deles e popularizar a imagem deles.

Há alguma outra banda que tenha criado um acervo documental ou algum diretor que tivesse feito algo assim e que te inspirasse a começar a filmar esse tipo de material? Hoje em dia, teve algum acervo que tenha se revelado e que você admire?

A minha maior referência era o documentario brasileiro e toda coisa do cinema nacional com a câmera na mão. “The hard they come” de Perry Henzell foi uma das minhas referências.

O processo de produção do documentário “De perto”, sobre o Herbert Vianna, já estava em curso na época do acidente dele? Conte um pouco da história desse projeto.

Quando acontece o acidente a gente ia pro hospital e ficava lá de prontidão, sem nada pra fazer. Assim que saiu do coma, o Herbert falava em várias línguas, misturava português, espanhol e inglês, sempre rimando. Ele estava se reconectando e fazia isso através da música. Então os músicos foram tocar, os médicos tratar dele, e eu achei que eu só poderia ajudar filmando, mas era um momento muito delicado. Apesar de sempre levar uma câmera comigo, não filmei. A preocupação era se ele ia sobreviver. Depois, à medida que ele foi se recuperando, tomei coragem, falei com o Zé (Fortes, empresário da banda) e recomeçamos a filmar.

Nos anos 60, O Júlio Bressane rodou um documentário de nome parecido, chamado “Bethânia bem de perto”, que também pega imagens de uma artista iniciante em evolução. Apesar de o foco do seu documentário não ser apenas o início da carreira do Herbert, de alguma forma, você prevê um diálogo estético do seu filme com esse ou é só uma semelhança de nomes?

É só uma semelhaça de nomes. infelizmente não vi o filme do Bressane.

Na sua vida pessoal há algum momento mais significativo da relação afetiva com a música dos caras? Alguma música que se destaque em uma história pessoal…

São várias. Foi no show de lançamento do Big Bang que eu conheci a minha mulher, em 1989. Daquele show ficou especialmente a música “Lanterna dos Afogados”.

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O filme entrou em circuito semana passada e é imperdível para quem tem as músicas desses três caras como parte fundamental da trilha sonora de sua vida. Afetivo até o talo, passional, partidário e comovente.