Gogol Bordello no Indie Rock

      O que são os ciganos, se não um povo que se desloca sempre à procura da nova aventura, vizinhança, da próxima conversa. Um povo com uma forte cultura, facilmente identificável, mas igualmente interligado a mouros, andaluzes, húngaros, eslavos e até portugueses. E o que é o mundo, hoje, se não uma constante troca de lugares e viagens e conexões e influências que se somam e confundem até que alguém preste atenção e tcharam, do choque brote a novidade?
      O bis do Gogol Bordello talvez tenha sido a hora em que mais explícito ficou o papo cabeça aí do primeiro parágrafo, mas não foi onde o argumento foi mais forte. Uma noite que pula do País de Gales e toda a britanicidade torta do povo da última princesa paparazzi para uma Nova Iorque balcânica que poga tarantella e flamenco no mesmo andamento tem um tanto a contar sobre o estado das coisas, ainda mais na ponte Europa-Nova Iorque. E cada vez mais, Rio.
      Para quem não pegou, ou não agüentou ficar até o fim, lá pras quatro da manhã em uma sexta – eu que nunca fui disso cogitei desistir – o bis foi quase uma playlist do que deve estar rodando os iPods do Gogol. Uma ode bêbada à inspiração do álcool, primeiro no violão percussivo de Eugene Hultz, depois com a companhia de acordeon e violino. Depois, uma mistureba louca de Frevo Mulher (isso, Zé Ramalho) e Pagode Russo (Gonzagão) com uma cigana famiglia chamada ao palco. Mais bem intencionada do que executada. Um Mala Vida clássico da inspiração punk-bagunceira Mano Negra, como quem pega o anel de bamba de quem já não dita como um dia ditou. E uma Indestructible esticada (e pulada) ao limite da exaustão, em sinal sincero de que a festa não era pra terminar nunca.
      Mas, retomando, o correr do show é que mostra o quanto uma formação com etíopes, russos, equatorianos e israelenses – fora um ucraniano cigano - pode reunir no punk um panorama de uma Europa central que começa na Itália e só vai terminar em pleno Oriente Médio, em bailes de casamentos judaicos. É um som, como muitos novos, que apesar de festeiro demanda tempo para ser compreendido. Pode parecer parecido e repetitivo, à primeira ouvida, ainda mais se for com o tradicional embaralhamento sonoro da Fundição, que deu alô mais uma vez. Mas um som que fala do que está ao redor, embora na correria nem dê pra ver. A mudança.

Gogol Bordello no Indie Rock Gogol Bordello, na Fundição, 13/11/09 Gogol Bordello no Indie Rock Gogol Bordello no Indie Rock Gogol Bordello no Indie Rock

Super Furry Animals no Indie Rock
      A banda de Gruff Rhys, o Super Furry Animals, também enfrentou a mistureba de graves, médios e agudos com força, e fez um show que começou fácil e foi abraçando quem acompanhava. Se são mais sutis, muito mais sutis do que o Gogol – tanto quanto uns galeses podem ser em relação a uns babélicos aciganados – são igualmente passeadores do mundo. Embora a performance não tenha tido a mesma sensação da de anos atrás no Fridja (eu não fui), deu muito resultado a brincadeira de levantar cartazes, entre eles um de McCarthy, tecladista do Franz Ferdinand.
      Os efeitos que Rhyss solta na voz ou simplesmente soltos na música também jogam para viagens (movimentações, trânsito, trafegadas, linkagens) que ao se chocarem com uma expectativa aqui ou uma vivência ali tendem a inspirar, a fazer sorrir, a entreter. Mudanças, que talvez na correria nem dê pra ver. E que iriam bem com projeções, mas aí eu já to me metendo no trabalho deles.
Super Furry Animals no Indie RockSuper Furry Animals no Indie Rock Super Furry Animals no Indie Rock Super Furry Animals no Indie Rock

      Ou seja, de Gogol a Animals, a noite foi agitada do tipo que revela mais do que está lá para ver e ouvir. Parece que a década se encaminha pro final ameaçando se aquietar, tem gente achando que o novo ficou lá por 2007, mas um palpite me diz que é hora de consolidação, e que menos primeiros discos bonzões pode ser algo positivo se vierem mesmo os terceiros e quartos discos melhores do que os de estréia. É esperar pra ver (e o Strokes, a primeira banda dos anos 00, tá justamente pra lançar o quarto, é bom se ligar).