Tô pra falar do vazamento das gravações de João Gilberto na década de 50 e do show dele com Tom, Vinícius e Os Cariocas no Au Bon Gourmet, em 1962 desde que começaram a pipocar as notícias. Na verdade, sem muito para acrescentar ao que já foi dito por aí, mas só para registrar trechos do livro “Eis aqui os Bossa Nova” que venho lendo em doses homeopáticas desde o fim do ano passado. Na véspera de ler a primeira nota sobre o tema, passei pelo seguinte trecho do livro de Zuza Homem de Mello.

Milton Banana:

Marcamos uma reunião na casa do Vinícius, que se gamou em mim e falou: Miltinho, nós temos um show muito sério para fazer. Tudo música da atualidade. “Samba do avião”, “Garota de Ipanema”… Esse show foi recebido extraordinariamente. Eram Os Cariocas, João, Tom no piano e Vinícius declamando. Foi nesse show que começou a estrela de João Gilberto.

O histórico pocket show Um encontro estreou no restaurante Au Bon Gourmet da avenida Nossa Senhora de Copacabana em 2 de agosto de 1962 com a participação do grupo vocal Os Cariocas, do baixista Otavio Bailly, do baterista Milton Banana e, pela primeira vez reunidos num espetáculo, de Tom Jobim, Vinícius de Moraes e João Gilberto. Na temporada, por seis semanas, foram lançadas as derradeiras composições da parceria Tom & Vinícius “Só danço samba” e “Garota de Ipanema”, com uma introdução especial. Também eram cantadas as inéditas “Samba do Avião”, de Tom, e as primeiras parcerias da dupla Baden Powell & Vinícius, “Samba da benção” e “O astronauta”. A direção foi de Aloísio de Oliveira”

Diz ainda a nota de rodapé:

“A sequência de canções era simplesmente esta: “Só danço samba”, com Os Cariocas; Samba de uma nota só”, com Tom e Os Cariocas; “Corcovado”, com João e Os Cariocas; “Samba da benção”, com Vinícius; “Amor em paz”, com João e Os Cariocas; “Bossa Nova e bossa velha”, com Os Cariocas; “Samba do Avião”, com Tom e Os Cariocas; “O astronauta”, com Vinícius e Os Cariocas; “Samba da minha terra”, com João; “Insensatez”, com João; “Garota de Ipanema”, com João, Tom e Vinícius; “Devagar com a louça”, com Os Cariocas; “Só danço samba”, com João e Os Cariocas; “Garota de Ipanema / Só danço samba / Se todos fossem iguais a você”, com todos.”


A quem se interessar, o livro é de 1976 e rapidamente se tornou uma raridade. Numa linguagem moderna, Zuza faz uma espécie de documentário escrito. Junta trechos de diversas entrevistas que ele fez, entre 1967 e 1971, com dezenas e dezenas dos nomes mais importantes da música brasileira naquele período. Amarra tudo com uma narrativa esclarecedora, que pinta bem o cenário descrito pelas palavras, como se fosse um narrador em off. Em 2008, ele fez uma “remontagem” da edição esgotada e, pela comemoração dos 50 anos da Bossa Nova, relançou a obra, que merece lugar na estante de pesquisa sobre a música brasileira. 

Digo isso enquanto ainda leio o meu.