Lariú, pai do indie nacional (quem diz são os meninos das bandas dele), me respondeu essa entrevista curtinha para um texto do site do Humaitá Pra Peixe que destacava justamente a segunda noite do festival. Nela, estava homenageado o selo midsummer madness, e seus 20 anos de história. Pro texto, ouvi também o Fernando Paiva, do Luísa Mandou um Beijo, e o Diogo Valentino, do Supercordas. Mas aqui, vai só a conversa com o dono da banca. Parabéns.

Pra vc que frequenta o circuito de festivais do Brasil, e que organiza o próprio, qual é a dimensão de ter uma noite do Humaitá Pra Peixe deste ano para o teu selo?
RL: Acho muito legal a homenagem do Humaitá Pra Peixe aos 20 anos do midsummer madness. Eu e o Bruno somos mais ou menos contemporâneos e ele sempre ajudou nas produções do midsummer madness. Em 1999, quando comemoramos 10 anos, teve uma noite no HPP com Astromato e Pelvs. Logo depois, em 2003 ou 2004, se não me engano, o mmrecords passou a ser responsável pela banquinha de CDs do Humaitá Pra Peixe. Ou seja, há uma relação íntima aí…
Viajando para todos os festivais desde 1997, o HPP sempre foi uma referência para mim. Acho o formato atual, com vários dias da semana, e apenas 2 shows por noite o mais acertado pois valoriza o show de cada artista. Além disso, a variedade de estilos também me agrada muito. Apesar de eu preferir rock, no HPP sempre tenho a chance de conhecer outros estilos e ampliar os horizontes. A minha admiração pelo HPP é tanta que, como membro-fundador da ABRAFIN, fiz questão de na primeira oportunidade convidar o HPP a participar.

Você acredita que exista uma percepção sobre uma identidade das bandas ligadas à midsummer madness?

RL: Eu sinceramente espero que sim. O midsummer madness é uma gravadora de bandas de rock, indie rock e redondezas. Já lançamos CDs que não são rock no sentido restrito e que dialogam com bossa nova (The Gilbertos, Fellini), ska (EnZZo) e até música eletrônica (Dois em Um, Casino). Mas mesmo assim, eu quero acreditar que já seja possível detectar um mmrecords sound. Até porque minhas referências em termos de gravadoras sempre tiveram esta parte de seleção muito forte, como a Motown, a Sub Pop e a Creation Records. Fico muito feliz quando lançamos uma banda novíssima e ela consegue uma boa repercussão só por fazer parte do nosso cast, o que para muitos já designa um selo de qualidade.

O impacto das novas tecnologias no hábito de ouvir música abre espaço para selos menores como o mm? E outra: o que é ser um artista novo hoje (só pra dar um exemplo, tanto a Supercordas quanto a Luísa… já não estão no primeiro disco)

RL: Eu não gosto do termo “novo” para bandas como a Luisa Mandou Um Beijo (que comemora 10 anos de vida em 2009) nem para o Supercordas (que já existe desde 2003). Muito menos do termo “pequeno” para o midsummer madness. O mmrecords sempre foi uma gravadora segmentada, diferenciada. Não dá pra dizer que nós somos pequenos porque eu tenho mais de 60 bandas no cast, destas, pelo menos 30 em atividade; mais de 600 músicas lançadas, quase 100 EPs desde 1994, 25 CDs lançados, a maioria esgotada em vendas… Foram mais de 20.000 CDs prensados, 10.000 fitas cassetes, quase 3000 CDRs, algumas dezenas de milhares de acessos ao site desde 2006… Ou seja, não é pequeno.
Somos uma gravadora diferenciada porque sempre apostamos nas boas alternativas. Teve uma época que a alternativa eram as fitas cassete, depois os CDRs, hoje a música online, o roteiro de festivais. Eu acho que Supercordas e Luisa Mandou Um Beijo não são novos nem pequenos, são bandas que atuam num novo mercado, ainda incipiente mas muito mais promissor do que o de 20 ou 10 anos atrás. Pensar em termos de mainstream, rádio, etc para estas bandas é um passo para frustração, é burrice. Todas as  bandas do midsummer madness têm este modo de olhar, este jeito de pensar: elas entram para o mmrecords porque acreditam num mercado especializado, num trabalho diferenciado e em metas realistas. Toda banda “nova” deveria pensar assim: sucesso é relativo. Prensar 500 cópias de um CD e vender 100% destas cópias é sucesso… afinal, qual banda hoje, de gravadora major, vende 100% de sua tiragem? Nenhuma! Fazer shows em bons festivais, que tragam bom retorno financeiro, de público e de crítica, idem. Para isso não precisa ser o Skank nem o Calypso. Se o seu cachê é de R$500 e você recebe sempre isso para fazer shows, mantendo o caixa da banda sempre saneado, você é uma banda muito melhor arrumada do que a maioria das bandas que se julgam ‘grandes’ ou ‘estabelecidas’.