Momento 1: Elton John está quase chegando, e com ele duas expectativas. Muita gente espera que o inglês faça um show que relembre os tempos em que era vanguarda de rock e de comportamento ao lado de David Bowie, respeitado pelos grandes nomes da década como Lennon e Dylan (grandes nomes também da história do rock). E outro público só espera mesmo o que está na memória, as canções ao piano, a balada, o pop puro e simples, sem erro e pouco ousado. Like a Candle in the Wind.
Olhando para outro gênio da geração de Elton, Stevie Wonder, a sensação é parecida. Ele só não vem ao Brasil. A ousadia e a invenção fizeram a fama, depois vieram as baladas. I Just Call To Say I Love You, e tal. E continuando na linha de raciocínio, não dá pra não lembrar de uma das listas do Nick Hornby em Alta Ansiedade: Rob, top five musical crimes perpetuated by Stevie Wonder in the ’80s and ’90s. Go. Sub-question: is it in fact unfair to criticize a formerly great artist for his latter day sins, is it better to burn out or fade away?
Traduzindo a subpergunta: é injusto criticar um ex-grande artista pelos pecados dos últimos dias? É claro que junto com Elton e Stevie, dá pra imaginar uma porrada de gente que resolveu fazer balada e renunciou à inquietação. Aqui no Brasil, fica um misto de torcida carinhosa e medo de decepção com heróis de outrora como o Titãs e o Skank. Para alguns, o limite do pop, do rock, do funk, fica ali perto de vinte anos. Mas gente como R.E.M. e Bob Dylan tá aí para mostrar que não.
Momento 2: O que anda fazendo a nova geração? Entre as novidades nas vitrines do verão, há uma tendência por freqüentadores de saraus onde se apresentam e trocam composições ao violão e voz, uma estética de reviver o surgimento da MPB da era dos festivais. No rock pesado, com ou sem franja, as levadas de guitarra distorcida são as mesmas, a bateria marcada é mixada bem alto, e a voz fica puxada ao máximo para notas esticadas, variações de um mesmo hardcore melódico. A palavra de todos é canção, uma busca só por melodias se dando bem com palavras. No discurso dos artistas, ninguém fala em arranjo, em pegada, em timbres.
A figura do cantautor – cantor e autor – aproximou o rascunho de uma nova obra com sua cara final. Em alguns momentos, isso vem em um discurso de samba e brasilidade, como se um Cartola não fosse cercado de instrumentos, contrapontos, de ensaio e improviso. O mesmo vale para outras referências (a busca pela canção perfeita só empata com a pela referência ideal) que podem ir de Neil Young a Jonny Cash a Novos Baianos.
Se a história da cultura pop foi escrita em cima de jovens desafiadores que opunham a invenção ao funcionamento do sistema, daí o eterno atrito que encantava enquanto era engolido pela máquina, hoje ser jovem é procurar um sistema e não saber se encontra. Sem certeza de a que se opor, novos artistas parecem querer ser adultos (ou a idéia que fazem disso) antes da hora. Fica um monte de garoto novinho querendo usar terno e gravata, os novos talentos querendo se fazer de cansados para ser aceitos. Pensando bem, é um pouco isso que os artistas grandes passam como referência. E quem chega agora em vez de questionar, prefere fazer igual para se enturmar. É o conservadorismo como estratégia de arte pop.
Há de se esperar mais, não só voz e violão.
Momento 3: De voz e violão é feito o que será o disco de Lucas Santtana, já pronto mas ainda sem saber como será lançado. Provavelmente, em partes. Uma música de cada vez. E o disco é só arranjo. Para dissecar o formato, estudá-lo tomzenianamente, Santtana chamou uma série de produtores que não revela nem sob insistência plena (um deles é João Brasil). E experimentou. Essa primeira prova é com Gustavo Benza e Lucas Martins: Santtana selecionou trechos de violões de Baden, Ben, Caymmi e abriu as experiências para o time trocar idéias. Chama-se Super Violão Mashup. O disco é Sem Nostalgia. Não é o único caminho, mas é um sinal de que a acomodação não é geral. Bom sinal.
E tem uma Positive Vibration de brinde.
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Lucas
janeiro 15th, 2009 at 15:16
valeu Bernardo!
tem o Berna, o Buguinha Dub, o Chico Neves, o Gilberto Monte, o Rica Amabis, viu não é tão segredo assim, hahahahaha
Beni Borja
janeiro 15th, 2009 at 19:32
Bernardo,
Acho que além da caretice reinante , a realidade do sons que a gente ouve por aí ,nos shows e mp3s da vida, tem uma bela parcela de responsabilidade por essa estética voz e violão.
Na medida em que tocar ao vivo se torna cada vez mais essencial como meio de divulgação : Prá que fazer um disco que vc. nunca vai conseguir reproduzir ao vivo?
ACho que muita gente , como o Lucas e eu ( que estou trabalhando num repertório nesse formato) , chegamos à conclusão que é melhor trabalhar num formato que independa de bandas , de roadies, de P.As horrorosos ,na sua realização da sua música.
bernardo
janeiro 15th, 2009 at 22:07
Beni,
Sem dúvida, o disco como obra que merece investimento tá ficando pra trás, né? Uma pena, mas é a roda girando. Eu ainda baixo mais disco do que música solta, mas também sinto falta de tempo pra digerir os álbuns, e tal. O que eu não sei é quanto tempo e de que forma isso vai acontecer.
Ao mesmo tempo, tem tanta tecnologia aí facilitando arranjo, invenções, idéias, mesmo pra quem não quer nada com sonoridade eletrônica, que eu acho que tem que querer fazer ao vivo mais do que a roda de violão em volta da fogueira.
Eu, jornalista, quando tenho que fazer perfis de um monte de artista parecido, com ambições que eu vejo que são curtas ali, fico angustiado. Como ouvinte de música, é pior, eu fico decepcionado, mesmo.
Uma melodia irresistível vai ser sempre foda, mas porque não bem tratá-la? Um arranjo ajuda a melodia, mesmo que seja só no violão. Acho que a jogada é mesmo conseguir conciliar a praticidade do show na estrada com criatividade, com arte.
Se não, ser artista fica muito fácil, né?
E fácil, a gente sabe que não é…
Beni Borja
janeiro 16th, 2009 at 15:23
Bernardo,
Concordo inteiramente com vc. Normalmente quando se fala em voz e violão , não se trata de uma escolha estética , mas sim de uma solução porca para a pobreza de meios.
Mas acho que nós temos no Brasil uma tradição , que me parece que se inicia com o Caymmi , de artistas que resolveram espetacularmente o problema de cantar se acompanhando ao violão ,que nos dá um certo estofo musical para a tarefa inglória de dormir com o seu violão até achar um formato musical satisfatório.
Mais recentemente eu acho que o Lenine é um bom exemplo de um cara que resolveu sua vida só com violão. Digo isso porque me parece que foi à partir do Olho de Peixe , que ele fez com o Suzano numa limitação de meios franciscana , que ele achou um som e um público, que eventualmente o permitiu fazer as coisas mais elaboradas com banda e com o apuro técnico necessário para ela soar bem.
Voltando um minuto ao nosso amigo, filho de Roberto, aí de cima . O Lucas fez um dos melhores discos dos últimos tempos o “Parada de Lucas”, mas infelizmente as dificuldades práticas de fazer shows com aquele repertório ótimo , limitaram severamente o alcance do que deveria ter sido um marco da MPB.
Essa é a realidade do dia, e temos que conviver com ela.
Agora , independentemente dos meios, a música bem feita triunfará (é nisso que eu quero acreditar prá continuar mínimamente são) e música feita com a ambição da invenção realmente é coisa escassa na enorme oferta de música que nos assalta.
Bernardo Mortimer
janeiro 17th, 2009 at 3:49
É sim, Beni. A música bem feita triunfará, concordamos na fé e no otimismo. De qualquer forma, o exemplo do Lenine “que resolveu a vida só com violão” é ótimo. Nem sou grande fã de Lenine, muito pelo contrário, mas não dá pra dizer que ele abriu mão de arranjo. Ou de pegada.
Em outras palavras, não é um artista de solução fácil.
É isso, né?
Beni Borja
janeiro 18th, 2009 at 23:33
Exatamente Bernardo. A função da crítica não é gostar ou não gostar, mas ser capaz de pensar à respeito de uma obra.
Você não gosta do Lenine , eu já gostei mais. Mas independente disso, somos capazes de ver que no trabalho dele há sempre a ambição da originalidade - obrigação maior de quem quer ser artista.
É essa ambição que anda em falta prá cacete.
luciano oliveira rodrigues
janeiro 20th, 2009 at 13:19
bernardo, “páz e lúz ! obrigado por colaborar com a nossa música; um abraço do baiano luciano formi.
Fred Coelho
janeiro 22nd, 2009 at 13:25
Além de louvar o debate sempre atual e propositivo do site, quero registrar aqui que fiquei chapado com o som do Lucas. Isso sim é som Brasileiro e Novo, popular, batidão e caymmi, sem fronteiras. Seja música por música, seja como disco, o novo trabalho dele promete!
Ainda vai rolar muita coisa na música brasileira contemporânea nesse caminho inovador. Lamentavelmente, serão quase sempre undergrounds, para poucos, para quem corre atrás etc. Mas o conservadorismo é uma tendência em voga não só na música como em muitas áreas da cultura brasileira atual. Fórmulas vitoriosas são repetidas ad nauseum e na música isso é regra.
Outro ponto para pensarmos é a presença cada vez maior do Produtor na música brasileira. Timbres, arranjos, harmonias ficam muitas vezes a cargo do cara que pensa sonoramente o disco, deixando para itérpretes ou compositores o papel de executores de uma idéia. Poucos são os músicos - como o Lucas, como a galera do Instituto - que cria uma cumplicidade ornânica entre intérprete, compositor e produtor, onde o resultado sonoro é de fato um produto final dessa troca coletiva de idéias.
Grande abraço!
bernardo
janeiro 22nd, 2009 at 23:04
Valeu, Fred.
Engraçado vc citar o Instituto, porque se trata de um coletivo de produtores. E isso me leva a outra pergunta (que nem é minha): e os projetos na música atual?
Hoje é mais fácil gostar de um projeto de uma recombinação de figurinhas conhecidas, do que propriamente de uma banda. Será que o compromisso de viver com a banda, de pensar junto uma só decisão, de tocar e viajar sempre com o mesmo repertório, será que isso também caminha por um rumo de exaustão e de perda de importância?
Que ambição é essa de ter um ‘projeto’?
Eu não sei, mas confesso que sou simpático aos projetos.
Abraço,