Pra começar, ele foi saxofonista do Toasters, e só por isso ele tem que ser respeitado. Mas Rock Steady Freddie, ou Fred Reiter, ainda saiu de uma das melhores bandas de ska e formou a New York Ska Jazz Ensemble. Trata-se de uma reunião não lá muito fixa de músicos novaiorquinos que pegou de volta o caminho dos alunos de uma escola de jazz tradicional da Jamaica que decidiram usar aqueles ensinamentos para tocar uma nova forma de música popular.
      Eram os anos 60, e aqueles garotos formaram o Skatalites. Pois trinta anos depois, Freddie, ainda no Toasters, arrumou uns amigos para a viagem de volta, naturalmente com a mala mais cheia - partir do ska para os standards de jazz. Há controvérsias, mas tem quem diga que foi a primeira de uma onda de bandas de ska-jazz. E é esse show que passa pelo Brasil essa semana, pra se preparar basta ouvir aqui um pouquinho.
      Mas antes de ouvir, se liga no resto do currículo: estudou o instrumento com Steve Greenfield, do Kool and the Gang, teve banda com o guitarrista Stanley Jordan e acompanhou lendas como Joe Henderson, Ritchie Havens, Philly Joe Jones e Joe Jackson, além de Lou Reed.
      A nossa troca de emails foi mais ou menos assim:

sm: Prezado Senhor,
Sou um jornalista do Rio de Janeiro e gostaria de entrevistar alguém da New York Ska-Jazz Ensemble sobre a turnê deles pelo Brasil. Você me ajudaria a contactar algum deles para que eu escreva algumas perguntas? Eu escrevo em um site chamado www.sobremusica.com.br É em português, mas você pode dar uma olhada, se quiser.
Obrigado,
Bernardo Mortimer

RSF: Oi Bernado,
Eu sou Rock Steady Freddie, o líder da NYSJE. Posso responder as tuas perguntas. Manda ver.
Paz, RSFreddie

sm: (mando as perguntas duas vezes)
RSF: Bernardo,
Vou fazer as tuas perguntas à noite – em algumas horas você recebe. Obrigado, RSF

RSF: Está uma loucura, já que viajamos na quarta. Vou fazer o melhor que puder. Eu anexei uma biografia minha e uma folha sobre NYSJE que vai te dar mais informações, é só conferir. De qualquer forma, aqui vai:

sm: Misturar ska e jazz não é tão comum no Brasil ou na América do Sul, mas você encontra bandas/orquestras que fazem isso na Europa e Estados Unidos. Qual é a história da NYSJE, e quem são vocês?
RSF: Eu sou Rock Steady Freddie, o líder e co-fundador da NYSJE. Em 1994, Rick Faulkner e eu, inspirados pelo Skatalites, juntamos uma banda que buscou empurrar as fronteiras do ska. A gente queria tocar tempos mais rápidos, expandir a harmonia tocada em geral no ska e, principalmente, ficar tranqüilo para improvisar com nossos músicos preferidos. Quinze anos depois, eu sou o único integrante original que restou, mas a minha banda atual é possivelmente uma das melhores formações que já rolaram. Como no início, a gente mistura ska, jazz, rock steady, funk, rock, reggae e o que mais a gente jogar na mistura para criar música dançante e escutável. A banda sempre quis tocar no nível mais alto ao mesmo tempo oferecendo ao público um show animado.

sm: Como vocês se relacionam com outras bandas da cena ska/reggae de Nova Iorque, como o Easy Star-All Star [do Dub Side of the Moon e Radiodread] e o Slackers?RSF: Nós somos amigos de várias outras bandas de ska. O trombonista do Easy Star, Buford O’Sullivan, já fez duas turnês com a NYSJE. E eu já gravei com o Vic Ruggiero, do Slackers, entre várias outras tentativas.

sm: O que você pode contar das gravações do próximo álbum da NYSJE?
RSF: Nosso novo disco, Step Forward, está saindo. Tem composições do trombonista Mark Paquin, do tecladista Earl Appleton, do guitarrista Alberto Tarin e do seu querido RSFreddie. De mais a mais, as influências são variadas e eu acho que as melhores [influências] até hoje, embora o estilo de cada um apareça ali no meio. E ainda tem covers de Mingus, Brubeck e outros grandes do jazz, como sempre.

sm: Um pouco mais de uma década depois de bandas como Sublime e No Doubt terem trazido de volta o ska, você acha que existe uma nova geração de ouvintes ligada ao ritmo, interessada principalmente em ska tradicioanal? Tem a ver com a volta às turnês do Madness, do Skatalites e talvez do Toasters?
RSF: No fim das contas, as pessoas gostam de boa música. É claro que bandas que viajam mantêm o som vivo. Nos EUA, um monte de jovens tem escutado ska, como uma espécie de rito de passagem, então com certeza novos fãs vão sempre se conectar à música. No fim, as melhores bandas e as que ficam unidas são os grupos que dão certo e os que atraem novos fãs.

sm: Quais foram as histórias que o [baixista e produtor] Victor Rice contou a vocês sobre o Brasil? Vocês vão se encontrar em São Paulo [onde ele passa boa parte do ano]? RSF: Eu espero ver Victor Rice no Brasil. Do que eu ouvi, ele ama o povo e a cultura. Antigamente, a gente ensaiava junto.

sm: Você algum dos artistas que vão se apresentar com vocês?
RSF: Tem uma galera com quem a gente deve fazer uma jam no Brasil pela primeira vez. A gente tá ansioso.

      Uma das perguntas que eu mandei ficou sem resposta: “No Brasil, bandas de ska estão acostumadas a lidar com donos de casas e produtores que não sabem o que é ska. Ou que quando dizem que sabem, pensam em algo como o punk-ska californiano, de guitarras distorcidas. Nas viagens que vocês fazem pelo mundo, dá pra falar um pouco sobre a percepção do que é o ska por aí?” Vou tentar perguntar pessoalmente no domingo, dia 29, lá no Odisséia. Ainda tem BNegão, Marcus Paulo Cientista do Digital Dubs e shows de abertura com Coquetel Acapulco e Djangos.