O texto que publiquei na Rolling Stone de abril começou aqui no SOBREMUSICA, em março. A coisa andou tanto que até o Paulo Coelho apareceu para falar! A forma como o mercado editorial tem encontrado para não se tornar obsoleto é curiosa. Ao contrário do que acontece na indústria fonográfica, as editoras não têm tanto pudor em admitir que a somente sua “matéria-prima” não será capaz de mantê-la funcionando por muito tempo. Trabalhando com a idéia de valor agregado e apropriação direta de novas mídias, os editores se movimentam de forma interessante e é bom acompanhar os próximos passos dessa história. Já que a edição não se encontra mais nas bancas, reproduzo o texto aqui.  

Além do livro

 

A cultura digital muda o jeito de se fazer literatura

O Youtube anda cheio de trailers de livros. Mais do que um aparente paradoxo, esta é só uma das novidades que sinalizam mudanças na dinâmica do mercado editorial. Uma mudança lenta e quase silenciosa, imposta pelos novos hábitos que a internet trouxe à vida cultural dos dias de hoje.

O escritor Flávio Izhaki optou por um desses trailers para servir de condutor da campanha de marketing de seu primeiro livro De cabeça baixa. “Usamos uma linguagem de cinema, com atores, trilha sonora, fotografia, mas aplicado à idéia de anunciar o livro”. O trailer tem pouco menos de três minutos e foi dirigido por Débora Pessanha. Para ela, as características do projeto influenciavam diretamente na sua criação. “Era preciso encontrar o equilíbrio entre fazer a propaganda de um livro e não revelar muito sobre ele. Por ser algo para internet, levamos em consideração o pouco tempo de atenção do espectador e uma qualidade de imagem desfavorável”, diz a diretora.

Além dos trailers, há outras fronteiras multimídias sendo experimentadas por escritores e editoras, como sites que completam o sentido da obra escrita - oferecendo áudios e imagens do que se lê -, ou ainda DVD’s que são encartados junto com os livros. Há ainda quem junte tudo isso com a criação coletiva propiciada pela internet. Paulo Coelho anunciou um concurso para que leitores façam seus próprios vídeos ou trilhas sonoras, em cima do livro Bruxa de Portobello. “Tudo começou de maneira muito intuitiva, vendo blogs de leitores no Myspace e me dando conta da enorme reserva de criatividade que estava diante de meus olhos”, conta Paulo Coelho. O tal concurso vai até o fim de maio.

O escritor mais vendido na história da literatura brasileira também embarcou recentemente numa frente de livre distribuição de suas obras na internet. A iniciativa, chamada Pirate Coelho, foi anunciada ao mundo em janeiro, na Digital Life Design, na Alemanha. “Como li no blog de um leitor, a Pirate Coelho é muito mais anárquica do que a iniciativa do Radiohead. Nela eu coloco toda minha obra em linha, para download, enquanto eles disponibilizaram temporariamente o seu mais recente disco. A base do Pirate Coelho está em sites p2p, enquanto o Radiohead o fez em seu próprio servidor”. O escritor acredita que a oferta de livros no ambiente online estimula a venda do produto físico. “Tive uma experiência no final da década de 90 na Rússia. Em 1996 havíamos vendido apenas mil livros por lá. Porém no fim de 1997, Brida apareceu traduzido em sites p2p e as vendas começaram a decolar. Em 1998, vendemos 10 mil. Em 1999, 100 mil. Em 2000, mais de 1 milhão! Isso não foi coincidência.”. Segundo o escritor, todas as suas editoras estão aceitando sua decisão e algumas até já reagiram positivamente. “Depois que anunciei o Pirate Coelho, vi a Harper Collins, minha editora nos EUA, lançar um novo software para leitura de obras integrais em linha. A Barnes & Noble também está seguindo esta estratégia”.

Na outra ponta desta cadeia produtiva, os responsáveis pela pequena Editora do Bispo também produzem vídeos para seus lançamentos e oferecem, em sua homepage, o download das obras. Para Xico Sá e Pinky Wainer, responsáveis pela editora, isto é uma divulgação para o trabalho do autor. “Acreditamos que o cara que baixa não é o mesmo que compra”, diz Xico Sá. “Não se pode ignorar que muitos jovens lêem apenas no computador. Criamos a TV do Bispo, que produz pequenos filmes para o YouTube, trailers e provocações em geral”, explica Pinky Wainer.

Segundo o diretor-geral da editora Objetiva, Roberto Feith, para investir nessa linguagem multimídia é preciso pensar em agregar informação e dinamizar o conteúdo do livro. “Isto representa um novo horizonte no planejamento das ações”. A editora além de possuir vários trailers em um canal próprio no YouTube também investiu recentemente em outras frentes multimídias, como o hotsite para Vale Tudo, a biografia de Tim Maia. “Colocamos as músicas citadas no livro para embalar a leitura, recolhemos fotografias que não puderam entrar no livro e criamos um fórum para os leitores contarem histórias deles com o Tim Maia. Acho que no mundo midiático em que vivemos, ações como essa só enriquecem a experiência da leitura”.  

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Qualquer hora pinta a íntegra da entrevista com Paulo Coelho aqui. Acho que, pelas aspas aí de cima, dá pra sentir que tá bem maneira…

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Quem anda pelas ruas do Rio de Janeiro (dizem até que em outras cidades também já se ouviu), não volta pra casa sem ouvir a pergunta do momento: E a comemoração dos 3 anos de SOBREMUSICA?!?!? Qual vai ser?!?!