Nos áureos tempos, a logo dos Raimundos trazia a letra “R” no meio de um quadrado de setas. A interpretação dos integrantes era a de “quatro cabeças diferentes unidas por uma mesma razão”. Rodolfo até tatuou a marca. Três discos depois e o quadrado começou a cair, as setas viraram flechas e o alvo… Bem, o alvo…

Falar sobre o “fim da banda” é normalmente associar o fato com a saída de Rodolfo em função de uma opção religiosa que, para a maioria, beira o fanatismo. O epílogo da história de um dos grupos mais importantes da história do rock brasileiro vai além disso e se arrasta até hoje por capítulos que parecem intermináveis e com um quê de baixaria e decadência.

O fato é que as tretas internas são muito anteriores à opção de Rodolfo. Canisso e Fred sempre representaram pontos de tensão interna na banda. Depois da saída do vocalista, em 2001, o grupo chegou a anunciar o fim das atividades, mas resolveu voltar à ativa, apoiados pela gravadora Warner, que por contrato ainda tinha direito a trabalhos dos Raimundos. Sendo assim, para tentar conciliar o inconciliável, a major passou a ter dois produtos nas mãos: os Raimundos-trio, com Digão nos vocais e o Rodox, novo projeto do vocalista crente. Por serem três, os remanescentes da maior banda de rock do país nos anos 90 imaginaram que teriam para si 75% de um orçamento que anteriormente seria destinados aos Raimundos enquanto o “rival” teria 25%.

Ledo engano deles e ledo engano da Warner que acabou tendo dois produtos que alimentavam raiva um do outro. Nenhum dos dois foi pra frente. Na época do lançamento de KavooKavala, as diferenças entre Canisso e Fred voltaram a falar mais alto e o baixista largou o posto na semana de divulgação do disco. Era a crônica de uma morte anunciada. Digão e Fred continuaram, com novos integrantes. Fred e Canisso nunca mais se falaram. Digão ficou no meio e mantinha contato com os dois, menos com Rodolfo, de quem Fred tinha raiva, mas que mantinha algum contato com Canisso.

Passou-se um tempo e Canisso assumiu o posto no Rodox. Mais brigas, disse-me-disse, e confusões. Os Raimundos que continuavam usando o nome original da banda resolveram lançar algumas músicas novas na internet, idéia arquitetada e produzida por Fred, da qual Digão nunca foi um grande incentivador. Aos olhos do baterista, a experiência foi um sucesso, já que rapidamente eles se tornaram recordistas em números de downloads no site da MTV, parceira escolhida para ser a plataforma de lançamento. Para Digão, aquilo representou menos discos vendidos, um distanciamento ainda maior do mainstream, do qual ele nunca conseguiu imaginar os Raimundos distantes.

Apesar da experiência na internet, os Raimundos nunca chegaram a investir a fundo nessa ferramenta. Por algum tempo, o site simplório da banda chegou a sair do ar. Depois voltou, em outro endereço e ainda mais simplório, praticamente reduzido a uma lista de discussões, onde os músicos e os fãs se misturavam em longos bate-bocas sobre qualquer coisa. Uma espécie de reality-show, já que as feridas e glórias eram partilhadas por todas. Nesse meio-tempo, o Rodox se dissolveu e Canisso entrou para o grupo Quebraqueixo, também de Brasília.

Rodolfo passou a se dedicar aos cultos religiosos. Aos que se interessarem por assistir aos testemunhos do ex-vocalista-de-rock-arrependido, a esposa dele, Alê – considerada a Yoko Ono dessa história toda – é quem gerencia e administra a agenda do moço. Cachê? Não, não há. O que existe são algumas poucas exigências sobre transportes e hotéis e a solicitação de que o “contratante” pague aquilo que Jesus disser ao seu coração que é devido. E assim, recebendo mimos em reais, dólares ou euros, Rodolfo vai levando a palavra da transformação pelo Brasil, Inglaterra ou Estados Unidos, como se pode ver no YouTube.

Voltando ao último capítulo da história dos Raimundos, o reality-site-show. Por meio de discussões intermináveis das quais os fãs participam como se fossem tão donos da banda quanto seus integrantes, em abril, Fred, que já estava tocando em um outro grupo chamado Supergalo, saiu da banda e Canisso voltou. Tudo por conta de um bate-boca e de uma série de interpretações de textos sobre as justificativas do bateristas para se ausentar de um show. Assim como em várias situações cotidianas na vida de todos os que usam a internet, quem lê os posts pode imaginar o tom que quiser às letras sem vida de uma troca de mensagem. Sem a voz, um simples “ah, tá bom” pode ser lido de pelo menos 5 formas e entonações, pelo menos para mim, em um exercício rápido. E assim, se deu a ida de Fred e a volta de Canisso. Nesse meio-tempo, Digão inventou o projeto Dênis e Digão, com um amigo de Brasília. Parece que deu um pouco mais certo do que os Raimundos vinham dando em termos de repercussão, graças a quem? A tal internet, da qual ele sempre desconfiou quando tratava dos assuntos raimundicos. O disco da dupla será lançado com distribuição da Universal. Digão conseguiu o que queria, voltar ao mainstream, que ele acredita ainda ser fundamental para que uma banda ganha as massas. Enquanto isso, ele vai levando os novos Raimundos, junto com Canisso.

Supergalo

Dênis e Digão

Quebraqueixo

Rodolfo
Em Washington (EUA)

Em Londres (ING)

Em Praia Grande (SP)

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A quem interessar possa, eu estou finalizando meu primeiro livro. “Brodagem - o rock brasileiro dos anos 90″. Ano que vem já deve estar à venda, com mais infos pra quem se interessar pelo tema. Parto demorado…

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Bernardo colocou as fotos da viagenzinha por Nova Orleans nos posts abaixo e pediu para eu dar o recado.

- “E aí, Bernardo! O que é que você quer que eu diga lá no meu post?

- “aproveita e abaixa essa barra de rolagem para ver as fotos que finalmente o genial bernardo botou na cobertura sensacional dele ao satchmo summer festival”.

- Demorou!

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Tá dito!